Silvana Saraiva*
O
pensador nigeriano K. C. Anyanwu define a filosofia africana como “aquela que
se interessa pela maneira com que o povo africano do passado e do presente
entende seu destino e o mundo em que vive”. Tomando este pensamento como ponto
de partida, podemos expandir seu significado à diáspora africana ou, mais
pontualmente, ao Brasil e seus descendentes.
O fato
é que a compreensão dos seus destinos está camuflada em perspectivas de uma
sociedade escorada em preconceitos passados, porém maquiados em discursos do
presente. Embora promulgada há mais de 10 anos, a lei 10.639 (que inclui ensino
da história africana e afro brasileira no currículo escolar) continua letra
morta. Pouco se viu de transformação no modo de pensar e tratar do brasileiro
no que tange às relações que o Brasil deve estabelecer com o continente
africano.
Na
última década, a expansão comercial africana estabeleceu novos recordes de
crescimento. Em 2005, Angola chegou à casa dos 15%. Hoje, a Costa do Marfim
caminha para quinto ano em 9%, segundo o Banco Mundial. No entanto, o Brasil
mantém uma miopia generalizada ao olhar a África.
No auge
da gestão do ex-ministro das Relações Exteriores, embaixador Celso Amorim,
crescemos cerca de 400% nas nossas relações com a África, que no quadro geral
representou apenas 0,8% em relação a outros países. Falamos da China (42%),
Reino Unido (12,5%) e Estados Unidos (8%). Neste quadro, o dinamismo brasileiro
em relação ao continente é quase inexistente.
Com
estes números, poderíamos inferir que não há como piorar. No entanto, as
estatísticas mostram que hoje nossa relação com África caiu para 0,2%. Trocando
em miúdos: inexiste! Com mais de 80 milhões de afro-brasileiros, ainda não
somos capazes de entender o mundo no qual vivemos e suas possibilidades.
Há um
provérbio africano que diz: “a união do rebanho obriga o leão a deitar-se com
fome”. O fortalecimento do eixo sul não colocará os leões para dormirem de
barriga vazia, pois a fartura de oportunidades excede ao estômago dos
principais players da América Latina. Porém, tira a África do alvo dos
neocolonizadores e traz uma perspectiva de ações mais sustentáveis para o
continente.
No
último Fórum realizado pela ONU na Costa do Marfim, discutiu-se sobre a África
Emergente, que apontava para um crescimento expressivo, mas sem reflexo na
geração de empregos e melhores infraestruturas. O Brasil, em relação a outros
países da diáspora, possui uma experiência mais consistente em programas
sociais e no combate à pobreza extrema. Isso sem contar os programas de
incentivo ao empreendedorismo, micro crédito para agricultura familiar, entre
outros.
Por
outro lado, enquanto nossa economia se retraiu, a da África permanece
inalterada, mesmo com a queda do preço do barril de petróleo. As vastas
riquezas naturais e os investimentos em agricultura nos próximos anos tornarão
o continente africano cada vez mais sustentável e atraente para os investidores
internacionais.
*Silvana
Saraiva é presidente mundial do Instituto Feafro
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