quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Cachaça de Viçosa do Ceará atravessa gerações e busca novas conquistas

De pontos mais elevados, o visitante curte uma paisagem exuberante de Viçosa do Ceará

A cidade é pacata, o clima é aconchegante e o casario nos transporta ao passado. Estamos em Viçosa do Ceará, a mais antiga cidade da Serra da Ibiapaba, que tem, entre seus atributos a cachaça. O produto é resultado da iniciativa de antigos produtores, que encontraram terras férteis e se estabeleceram na zona rural, onde instalaram seus engenhos. A cachaça é produzida de forma artesanal e traz o melhor aroma e sabor da região.

Uma mostra dos primeiros passos para produção da cachaça no Brasil, há mais de 500 anos
A cachaça nasceu no Brasil, poucos anos depois do descobrimento. Fabricada pelos escravos com a mesma matéria-prima da fabricação do açúcar, a bebida venceu preconceitos e ganhou importância cultural, social e econômica. A primeira plantação de cana-de-açúcar no Brasil foi feita em 1504 e há referências de que o primeiro engenho de açúcar foi construído em 1516, em Pernambuco.

A Cachaça Aviador conquistou o título de "melhor do mundo"
Com poucas referências históricas, a Cachaça de Viçosa do Ceará começou a ser fabricada em 1870, atravessou gerações com a adesão dos mais novos e chegou ao pódio em 2022 com o título de “melhor cachaça do mundo”.

A escolha de “a melhor do mundo” ocorreu mediante participação na 5ª edição da London Competitions, realizada nos dias 23, 24 e 25 de março deste ano, em Londres, na Inglaterra. A Cachaça Aviador Prata, fabricada no Sítio Uruoca, na zona rural de Viçosa do Ceará, ganhou medalha de ouro no concurso internacional. Na mesma competição, a Cachaça Aviador Premium Ipê, do mesmo fabricante, ganhou medalha de prata.

A premiação ocorreu no início de 2022, em Londres
Apesar da tradição familiar na fabricação do produto, a Cachaça Aviador é nova e foi lançada no dia 23.10.2020, data dedicada ao aviador. A denominação da cachaça tem um motivo especial: seu administrador, Caio Carvalho, é aviador de uma companhia aérea nacional. Jovem, cheio de planos, Caio divide seu tempo na terra e no ar, enquanto a cachaça decola e voa alto em busca de melhores dias para sua terra natal.

INDICAÇÃO GEOGRÁFICA

Caio Carvalho aguarda o registro de Indicação Geográfica
Em recente viagem a Viçosa do Ceará, consegui conversar com Caio. Ele disse que foi preciso sair da cidade para assimilar sua riqueza. Para ele, “falta conhecimento aos profissionais para valorizar as oportunidades. Faltam força e coragem aos mais velhos, enquanto os novos estão ansiosos.

Caio Carvalho preside a Associação Amigos Produtores de Cachaça Superior de Viçosa do Ceará (APCVIC), criada este ano, por parte dos produtores, com o objetivo de conquistar o registro de Indicação Geográfica (IG). A ideia da IG solicitada pela Cachaça de Viçosa do Ceará foi sugerida pelo Sebrae e ganhou força com a criação da associação. IG é um registro conferido a produtos e serviços que são característicos do seu local de origem, o que lhe confere identidade própria e os distingue em relação aos seus similares disponíveis no mercado.

Viçosa tem belos espaços públicos para nativos e visitantes
A IG é uma prova de que você está comprando um produto de qualidade, produzido com orientações técnicas. Apenas três cachaças brasileiras conseguiram o registro: a fluminense Paraty, a mineira Salinas e a baiana Abaíra. O empresário aviador está confiante e diz que a quarta será a Cachaça de Viçosa do Ceará.

Caio revela detalhes e diz que a IG se divide em Identificação de Procedência (IP) e Denominação de Origem (DO). A de Viçosa vai ser IP. O registro é concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade e Indústria (INPI). Caio lembra que “Viçosa sempre fez coisa boa, tem um nome e não está na prateleira”, e acrescenta que “a meta é trabalhar para tornar Viçosa a Capital da Cachaça”.

ASSOCIAÇÃO

Além da APCVIC, Viçosa do Ceará conta com a Associação dos Produtores de Cachaça de Alambique do Estado do Ceará (APCAC, presidida pelo produtor Jorge Mapurunga Nogueira. Criada em 2003, a associação tem como objetivo melhorar a produção dos engenhos. Com esta finalidade, muitos produtores tiveram a oportunidade de fazer cursos referentes à produção da cachaça, viagens técnicas para outras cidades, para vivenciar novos métodos de produção, participar de feiras e melhorar a estruturação e gestão de seus engenhos.

Dados da APCAC relatam que o município de Viçosa do Ceará conta com aproximadamente 80 engenhos produzindo cachaça, gerando cerca de 800 empregos diretos e uma produção de 20 mil litros de cachaça por ano. A comercialização ocorre de forma direta ao consumidor, no comércio local e em alguns estabelecimentos de Fortaleza. Boa parte da população de Viçosa se encontra na zona rural e tem na agricultura familiar uma das principais atividades econômicas.

As marcas de cachaça com registro no Ministério da Agricultura, Pesca e Abastecimento (Mapa) são: Cachaça Mapirunga, Cachaça Aviador, Cachaça Nogueira, Cachaça Malandrinha, Cachaça Vale do Lambedouro, Cachaça Rainha do Lambedouro, Cachaça Belchior e Magalhães. Existem outras marcas no mercado: Cachaça Sambaitiba, Cachaça Cana Torta, Cachaça Avante, Cachaça Meladinho, Cachaça Rapariga, Cachaça Viçosa Real (possui registro no Mapa) e Cachaça Dantas.

CACHAÇA NOGUEIRA

“Cachaça Nogueira, marcante como o nome da família, inesquecível como a infância no sertão”.

O antigo casarão guarda o passado da Cachaça Nogueira
Com este slogan, o administrador Wesley Bruno descreve a Cachaça Nogueira, uma tradição da família de produzir cachaça artesanal de alambique “desde meados do século 20”. A história do engenho e da família Nogueira estão preservadas numa casa de 126 anos, repleta de memórias de seus antepassados.

Peças antigas da Cachaça Nogueira
Implantada no Vale do Lambedouro, a casa virou museu e guarda em seus corredores a voz de comando do coronel Alderico, segundo proprietário do engenho. Sua personalidade está presente num quarto, onde estão expostos alguns objetos pessoais: seu terço, sua rede e os troncos de madeiras que substituem os armadores.

O casarão recebe visitantes e mostra a tradição da cachaça 
Foi nesta casa que o coronel Alderico deixou seu legado de progresso e ensinamentos para a produção da cachaça envelhecida em Umburana, que lhe dá um sabor adocicado e um paladar suave. Aberto para visitação e almoço regional de sexta a domingo (mediante agendamento), o casarão centenário exibe sua bela arquitetura e guarda a vivência da cultura sertaneja, os sabores da culinária tradicional do sertão e faz conexão com a história de Viçosa do Ceará.

Com este trabalho de atração de visitantes, a família Nogueira, na quarta geração, pretende desenvolver o turismo, movimentando toda a serra e dando visibilidade aos produtores. No almoço regional são utilizados produtos cultivados na fazenda – arroz, mandioca, feijão, além da tradicional galinha caipira.

CACHAÇA MAPIRUNGA

Alexandre recebe os visitantes o mostra o produto e os equipamentos do engenho
Num giro na Serra da Ibiapaba, deixamos Viçosa do Ceará e seguimos rumo a Tianguá. No caminho, descobrimos uma placa indicativa do Engenho da Cachaça Mapirunga. Foi fácil entender que Viçosa tem a família Mapurunga, mas a cachaça é Mapirunga. Tereza Cristina, da Casa dos Licores, disse que os dois nomes são a mesma coisa, uma fruta. A Cachaça Mapirunga segue a tradição do município, é artesanal de alambique, produzida com padrões de qualidade, com sabor e aroma deliciosos.

Leila Brito mostra detalhes bem expostos na sua loja Flor da Ibiapaba
O senhor Alexandre, filho do proprietário Eudes Mapurunga, nos recebeu e mostrou alguns equipamentos (parados). Era domingo. O engenho tem ao lado uma lojinha de artesanato, licores e geleias para venda e degustação. A loja, Flor da Ibiapaba, é da senhora Edleila Brito (Leila), que utiliza produtos naturais para fazer os licores com frutas cultivadas na fazenda do engenho. Simpática, Leila consegue ótimos ângulos para fotos na sua lojinha.
Leila transforma sua loja em cenário atraente para fotos
A jornalista Edgony Bezerra viajou a Viçosa do Ceará a convite do empresário Everaldo Mapurunga, do Pão da Vida
Fonte de informações: Caio Carvalho, Cachaça Aviador; e Wesley Bruno, Cachaça Nogueira

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